segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Maria Cristina Simioni - Currículo da Comunidade Surda


Na vivência proposta por Cacau foi possível perceber um pouco o que
passa o surdo frente a uma metodologia baseada na cultura oral dos
ouvintes. É realmente muito difícil articular ou mesmo ler nos
movimentos dos lábios, palavras com os mesmos fonemas (maçã e massa,
por exemplo); e o treino repetitivo das palavras, além de penoso só
pode causar mais bloqueios e traumas em relação ao Português.
Ou seja, o educando surdo é duplamente penalizado e excluído, tem
uma aquisição tardia de LIBRAS, sua Língua primeira e natural e a
aprendizagem da segunda Língua, o Português, sempre vai ser algo
traumático.
A oralização do surdo feita desta forma está vinculada a uma idéia de
educação como uma forma de "normalizar", "normatizar", o educando que
não se "encaixa" no modelo de sujeito que aprende.
Incluir o surdo significa respeitar a sua comunicação, significa usar
a LIBRAS como primeira via em todas as atividades propostas e, também,
em todas as etapas do processo de aquisição de conhecimento. Portanto,
significa aceitar o registro diferenciado do surdo, não como um
critério abrandado de avaliação, mas como um reconhecimento da
necessidade de trabalhar o sign writing e ter o Português realmente
como segunda Língua.
Acredito que a educação bilíngüe tem uma longa estrada a percorrer, é
uma luta que passa pela construção de escolas públicas de surdos, com
professores surdos e ouvintes fluentes em LIBRAS e pela elaboração de
um currículo pela comunidade surda.
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