domingo, 23 de novembro de 2008

Rosa Virgínia - O pior era não saber.

A CARTA:

Escrever sobre nossa vida e experiência leva tempo. Mas ao mesmo tempo faz com que analisemos melhor as situações ocorridas na época. As minhas primeiras lembranças me levam à época de meu ingresso numa escola maternal, de crianças ouvintes, na cidade onde nasci no interior de um estado nordestino. Relembrar foi como vivenciar novamente o processo educacional que hoje é proposto pelo MEC: a inclusão.


A EXPERIENCIA DE LER E SER LIDO POR OUTRO/O OUTRO:

Ver outra pessoa ler nossas experiências é ao mesmo tempo confortante como incomodo. Enquanto visualizo a leitura fiquei lembrando as passagens que narro e me questionava se a pessoa imaginava que minha infância foi assim.

Ao mesmo tempo me perguntava quais dos outros colegas passaram por situações parecidas com a minha.


EXPERIMENTAR O LUGAR DO OUTRO:

Ao ler a carta de outra pessoa pude fazer comparações sobre o que vivi e o que lia, mas não pude me colocar no lugar do outro. Pude perceber a intensidade da vivência, mas não em viver ou imaginar como eu teria sentido aquela situação.


AS FRAGILIDADE E POSSIBILIDADES PARA A INCLUSÃO NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO DE SURDO:

Minha experiencia, apesar de só ter 3 anos de idade, recordei perfeitamente de vários fatores e acontecimentos desta época. “Eu era muito distraída, a professora me chamava o todo o momento para que participasse das atividades com os outros colegas, mas eu não me interessava por estas atividades, preferia brincar com outras coisas, Não entendia porque meus colegas achavam tão divertias as histórias com fantoches, eu não achava engraçado”.

Entretanto no momento em que eu não gostar da vida escolar. Só via eles mexendo a boca, mas não sabia o que estavam dizendo. “Eu me senti de novo só e confusa”.

Narro estes fatos porque eu já passei pela inclusão. Para mim foi horrível não poder ser respeitada no meu modo de ser e agir. E o pior era não saber quem eu era e não entender em que eu era tão diferente. As crianças surdas precisam adquirir sua identidade e isso manifesta-se em primeiro pela aquisição da língua de sinal. Na escola para surdos os professores ensinam educação para elas paralelamente enquanto ajudam-nas desenvolver própria cultura e identidade participando da comunidade. Penso ser possível incluir, com certa estrutura pedagógica, no ensino médio. Mas o melhor e o ideal seria na faculdade, porque já possuem identidade e comunicam com colegas ouvintes.

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