Querida Ana Luiza!
Adorei ter tirado teu nome no sorteio para que recebesse minha carta. Escrevo para te contar um pouco sobre minha história na educação de surdos.
Quando eu tinha uns 17 anos de idade, mudei com minha mãe e irmã para Santa Maria. Eu fazia o segundo grau naquela época e junto com o terceiro ano fazia cursinho para o vestibular. Minha primeira escolha foi estudar para ser advogada. Conheci a educação de surdos por acaso. Na minha turma do terceiro ano tinha uma amiga que estudava para o vestibular de educação especial, na área da surdez e quando ela foi fazer os testes de aptidão (avaliação para saber se ela tinha perfil para fazer esse curso) me convidou para ir junto. Em uma manhã fomos a um antigo hospital universitário, para uma observação do trabalho educacional que era feito por estagiárias do curso de Educação especial – habilitação em audiocomunicação a crianças surdas.
Nessa experiência, fui capturada para a educação de surdos. Mas quando voltei para casa e disse para minha mãe que faria vestibular para esse curso, ela ficou preocupada. Me disse que eu não tinha perfil, pois para ser professora era necessário muita calma, “ainda mais para ser professora de crianças surdas...”. Fiz o vestibular para área mesmo assim e entrei no curso em 1990. Durante o curso, conheci várias amigas com as quais mantenho uma forte relação de amizade até hoje: Márcia Lunardi, Maura Lopes, Liliane Giordani e Marlei Tarragó foram minhas colegas e parceiras de estudos, festas e projetos nos tempos de graduação. Nossa formatura foi no dia 15 de janeiro de 1994.
Naquele mesmo ano, eu e a Maura fizemos o curso de Especialização, também na UFSM. O grupo de amigas se separou durante esse ano, pois a Marlei, a Márcia e a Lili haviam sido contratadas na escola onde fizeram os estágios, a Escola Frei Pacífico. Voltamos a nos encontrar no final daquele ano na seleção para o curso de Mestrado na UFRGS, que pela primeira vez oferecia vagas para mestrando na linha de pesquisa Educação Especial, na época constituída pelo professor Hugo Otto Beyer, que tinha voltado do seu doutorado na Alemanha, e pela professora Cleonice Rech, hoje aposentada da UFRGS.
Eu, Maura e Liliane fomos selecionadas e começamos o curso sob a orientação desses professores, cujas formações eram na área da deficiência mental e das dificuldades de aprendizagem. Pela especificidade da surdez, percebemos a necessidade de buscar suportes e o coordenador do programa na época era o professor Nilton Fischer. O professor Nilton nos orientou e apoiou a vinda do professor Carlos Skliar. Em 1995, Skliar veio para fazer uma palestra e no ano seguinte assumiu na UFRGS como professor visitante. Em 1996 formamos o NUPPES (Núcleo de Pesquisas em Políticas Educacionais para Surdos) e sob a orientação do Skliar desenvolvemos pesquisas no campo dos Estudos Surdos, que iniciaram no Brasil com esse grupo.
Em 1996, a FENEIS inaugurou um escritório regional em Porto Alegre. Eu era estudante no mestrado e vivia com o dinheiro da bolsa e quando fui convidada para fazer parte da FENEIS fiquei muito feliz. Trabalhei no primeiro escritório, na rua Vicente da Fontoura, por um ano onde participei da organização de cursos de instrutores e de intérpretes e na realização de convênios para empregar surdos em empresas, como os Correios, que foi a primeira a contratar 10 surdos.
Em 1997 passei em uma seleção para professora substituta na UFSM e voltei a morar por um breve período em Santa Maria. Nesse mesmo ano fiz concurso para professora na UNISC, onde comecei a trabalhar em março de 1998 e fiquei até março de 2008, quando ingressei na UFRGS.
Na UNISC, desenvolvi atividades de ensino, pesquisa e extensão. Coordenei o NAAC (Núcleo de Apoio Acadêmico) e acompanhei alguns surdos no ensino superior. Também participei da construção do curso de mestrado em educação e fiz pesquisas na área da educação de surdos.
Em 2006, fui chamada em um concurso da prefeitura e nomeada para trabalhar no CMET Paulo Freire, onde fiquei por 2 anos, até ser nomeada na UFRGS. Para assumir na UFRGS, precisei sair do município e da outra UNISC. Desses dois lugares guardo muitas lembranças boas. Neles aprendi muito sobre a educação em geral e a educação de surdos, em particular. Do CMET, saí feliz porque sabia que você seria chamada para assumir. Você deve lembrar que foram dias de grande expectativa, tanto para você como para mim e para toda a escola, que queria muito a tua entrada lá.
Desejo que nesse curso possamos nos aproximar mais ainda. Tenho muito respeito e admiração por ti, você sabe.
Um grande beijo!
Adriana