Oi colega Thais!
Ainda não conheço você, mas já vi você na UFRGS na apresentação dos nomes de cada um. Vou contar a minha história ... Espero que você goste!
Ao recordar minha infância, a luta durante a minha vida, para conquistar a independência, recordo quanto a Escola Frei Pacífico e os profissionais da época foram importantes neste crescimento, mostrando-me através da dedicação, religiosidade, coleguismo, cooperação e todos os reais valores da vida, da convivência em grupo, favorecendo meu amadurecimento pessoal.
Durante a gravidez, minha mãe teve rubéola fazendo com que eu nascesse surda. Meus pais descobriram a minha surdez aos meus 2 anos de idade. Aos 4 anos ingressei na Escola Frei Pacífico onde, na época, estudavam apenas meninas. Foi meu
primeiro contato com crianças surdas. Aí pude construir minha identidade surda e adquirir uma comunicação de fácil compreensão, pois, na época, utilizávamos gestos próprios de nossos familiares que nos auxiliavam, junto com a oralização, na comunicação e compreensão das palavras faladas.
Na Escola o uso do aparelho auditivo era obrigatório sendo avaliado através de nota no boletim, a freqüência do uso do mesmo. Quando tinha 8 anos, meus pais mudaram-se para Guaíba, sendo necessário então, que eu permanecesse na Escola em regime de internato como a maioria de minhas colegas.
Ao completar a quinta série do antigo 1º grau, tive que buscar minha escolaridade em uma escola de ouvintes, foi grande a tristeza de deixar o espaço onde cresci e pude ser compreendida como uma pessoa com capacidade de construir a própria vida.
Fui então, para escola em Guaíba onde meus pais moravam, confesso que a insegurança em relação ao desconhecido me assustava, não tinha intérprete na sala de aula mas conseguia ler, me esforçava nos estudos, fazia as tarefas sozinha e as vezes minha mãe ajudava, ela trabalhava o dia todo na escola. Tive ótimas experiências com professores e colegas ouvintes que sempre me respeitaram, apoiaram e incentivaram nesta caminhada. Pude, também, ensinar muito a eles, a forma de comunicação, a atenção e cuidados ao se comunicarem comigo, a importância da expressão facial e corporal manual.
Após concluir o 1º grau do Ensino Fundamental, voltei a estudar em Porto Alegre, em uma escola estadual de 2º grau no curso profissionalizante de administração de empresas. Iniciei meu primeiro emprego em uma empresa de fitas para escritórios. Mudei para Porto Alegre na residência de um casal de amigos que tinham um filho surdo. Quatro anos depois, mudei-me para um apartamento junto com duas amigas surdas, onde dividíamos todas as despesas. Na época trabalhava no Hospital de Cardiologia exercendo a função de auxiliar de digitação. A relação com os colegas era muito positiva tendo sempre o apoio e respeito de todos.
Aos 29 anos senti a necessidade de buscar uma profissão que me aproximasse mais da comunidade surda, iniciei o Curso de Magistério na Faculdade La Salle de Canoas e, ao finalizar o curso busquei a Escola Frei Pacífico para a realização do meu estágio. Fui recebida com muito carinho e apoio de todos os profissionais. As inseguranças que o estagio proporcionou foram acalmando e superando através do auxilio e incentivo do grupo, das Irmãs e Direção da Escola.
Durante o estágio, ainda permaneci atuando no Hospital de Cardiologia. Ao concluí-lo, esperei durante um ano até ser chamada pela Escola Frei Pacífico, para assumir uma turma como profissional efetiva. Aquela mensagem no meu celular me fez vibrar de alegria e emoção, o meu sonho se realizava.
Pelo fato de ter comprado meu próprio apartamento, outra grande conquista, tive um ano de alegria e trabalho, pois tentei conciliar os dois empregos. Trabalhava durante os três turnos. Infelizmente tive de optar por um dos dois caminhos, claro que optei por lecionar.
Estou completando 4 anos de trabalho na Escola Especial para Surdos Frei Pacífico, sou professora das séries iniciais, leciono o Ensino Religioso nas séries finais e ainda sou instrutora de Língua de Sinais. A Escola Frei Pacífico e toda a sua equipe sempre contribuíram para minha formação como pessoa e como profissional. Tenho somente que agradecer pelo amor, pelo carinho e pelo incentivo de sempre.
Estou feliz e vibrando com nosso primeiro Curso de Licenciatura em Letras/Libras no Brasil. Está sendo um grande sucesso! Já estou no 4º semestre deste curso, sendo que esta primeira turma se formará em 2010.
Quando terminar a minha faculdade de Letras/Libras pretendo continuar como professora surda lutando pelo povo surdo para conquistar os seus direitos e a qualidade dentro na Educação dos Surdos. Espero que exista um novo curso de Pedagogia, uma Pedagogia voltada para a Educação de Surdos, na qual também pretendo ingressar. E ainda, pretendo me inscrever para o concurso da rede municipal de ensino organizado pela Prefeitura de Porto Alegre.
Contei um pouquinho da minha caminhada rumo à Educação de Surdos e espero que você tenha gostado. Com Carinho da colega Ana Paula.