Querida amiga Sônia Mara, vou te contar um pouco da minha vida a que chamo de: “A história da construção de uma identidade surda”.
Eu não sou gaúcha, mas vivo em Porto Alegre desde os meus 14 anos, e concluí o meu 2º Grau em uma escola para pessoas surdas. Eu pertenço à classe média alta. As minhas primeiras lembranças me levam à época de meu ingresso numa escola maternal, de crianças ouvintes, na cidade onde nasci no interior de um estado nordestino.
Quando completei seis anos de idade, minha mãe procurou escola na cidade em que morávamos (Feira de Santana) que era uma cidade pequena na época e só encontrou a APAE para deficientes em geral. Ela não gostou, pois queria uma escola especial para surdos. Fomos então morar em Salvador onde então conseguiu uma escola especial para mim.
Estudei nessa escola até os treze anos de idade (até a quarta série). Na época, em Salvador não havia escolas especiais para surdos com as séries seguintes, então, meus pais e meu irmão mais velho, procuraram escolas em Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, mas acabaram por escolher a Escola Especial Concórdia em Porto Alegre onde vim estudar. Mudei-me, assim, para o Rio Grande do Sul acompanhada de meu irmão mais velho que estudava medicina e mais um outro irmão, além de uma prima que tinha uma filhinha de um ano de idade na época. Assim, recebi o apoio e o estímulo da família e estudei nessa escola até o fim do segundo grau.
Cursando Artes Visuais, a princípio não gostei de algumas das principais disciplinas do curso e isso me desmotivou bastante na época. Só vim a gostar do curso quando comecei o estágio, então passei a me interessar e até hoje aprecio muito a teoria das Artes Visuais. Pude perceber melhor as coisas quando comecei a atuar como professora na área. Via que os alunos nada conheciam acerca de artistas surdos. Aproveitava e mostrava materiais a respeito: livros, internet, filmes sobre artistas surdos e assim eles podiam conhecer e ter contato com tais informações.
Atualmente trabalho na Centro Social Marista Mario Quintano e ensino LIBRAS pelo comunidade, crianças, jovem, EJA.
Agora, fazendo um curso de pós-graduação: Pós-graduação em Pedagogia da Arte tento pesquisar o tema da “Auto-Estima Resgatada na Identidade do Artista Surdo”. Com isso, pretendo consolidar mais o trabalho que já venho realizando a nível de ensino.
Querida amiga Sônia Mara, espero que tenha gostado um pouco da minha história de vida e do que venho buscando na educação de surdos.
Abraços da Rosa Virgínia.