quarta-feira, 15 de outubro de 2008

De William para Janaína Santos

Querida amiga secreta Janaina Santos,

Desde pequeno sempre gostei de esportes, quando jovem joguei basquete profissional na SOGIPA junto com os ouvintes. E a cada dia tomava conhecimento dos diferentes esportes tais como natação, judô, futebol de salão, voleibol, fui tendo contato com as diferentes regras dos esportes e aprofundando os meus conhecimentos. Eu imaginava o meu futuro ensinando os esportes para os surdos e pensava que era importante estudar para trabalhar esportes próprios para os surdos. Durante as minhas aulas de Educação Física na Escola Especial Concórdia, eu observava o meu professor ouvinte, aprendia com ele e pensava:

“no futuro quero ser professor de Educação Física e ensinar os surdos”.

Na escola tinha a competição dos alunos do time Branco contra os alunos do time Azul, eu era líder do time Branco e organizador do meu grupo, fui vencedor. Pensava em ingressar na faculdade junto com os ouvintes, mas me angustiava: “será que terei intérprete?” Perto de me formar no 2° Grau, consegui um estágio como arquivista, trabalhei ao longo de seis meses. Pensava também na possibilidade de cursar informática, pois também observava as minhas aulas de informática e gostava.

Nesta mesma época de incertezas, viajei para a Venezuela para participar no Campeonato Americano de Surdos, fazia parte da seleção brasileira de basquete. Foi maravilhoso, tive contato com surdos de diferentes países, conheci outras línguas de sinais.

Fiz vestibular para Informática na ULBRA e rapidamente consegui estágio para esta mesma área. Estudei dois anos do curso de informática e depois percebi que não fazia sentido insistir em algo que eu não estava gostando. Percebi que a minha vocação era outra, pois eu só pensava nos esportes e voltei a sonhar em ser professor de Educação Física e ensinar os surdos.

Resolvi então mudar de curso e largar o meu estágio na área da informática. Ingressei no curso de Educação Física na ULBRA, sentia grande felicidade em praticar esportes. Fui monitor do CEAMA (Centro Estudo Atividade Motor Adaptado)-ULBRA dois anos. Eu ficava contente em ver tantos esportes e aprendi muito, como por exemplo, a ginástica olímpica. Percebia o quanto era importante estar cursando Educação Física, sentia que estava no caminho profissional certo. Neste mesmo período fiz o curso de instrutor da LIBRAS na FENEIS-RS o curso aconteceu ao longo de um ano, aprendi sobre cultura surda e identidade surda. Observei que os alunos participavam pouco da ginástica olímpica, conversei com a professora responsável e pedi para trabalhar com os alunos basquete, futsal e voleibol, ela me disse que precisava um projeto específico. Passei então a ensinar esses esportes, participei de um congresso brasileiro, fiquei dois anos como monitor e pela primeira vez palestrei na Universidade – ULBRA sobre a participação dos surdos em esportes.

Com o diploma de instrutor da LIBRAS nas mãos estava muito feliz e consegui diversos trabalhos nesta área. Fui felizmente chamado para ser professor de Língua de Sinais na escola Estadual Especial Padre Réus, um ano depois a Diretora da Escola me convidou para dar aula de Educação Física, aquele convite me fez relembrar o meu passado... a minha vontade de quando jovem em me tornar professor de Educação Física... que alegria ter a oportunidade de realizar o meu sonho.

Agora, eu estava em frente dos meus alunos surdos, sendo um modelo de adulto surdo a ser seguido. Somam-se seis anos como professor de Educação Física e ensinando os surdos. Treinei e incentivei os alunos da Escola Padre Réus a participarem dos jogos esportivos nas Olimpíadas dos surdos. Eu pratiquei muito com os surdos a corrida. No ensino sempre usei a língua de sinais, assim os surdos aprenderam rápido. Em competições entre escolas, ganhamos medalhas, o que deixou os surdos muito alegres. Na minha observação, vejo que hoje temos, entre a comunidade surda e sua cultura, as competições esportivas para lazer e esporte, o que é saudável.

Eu sou agora professor de Educação Física desde o maternal até o ensino médio na Escola Estadual Padre Réus. Me formei em Educação Física na ULBRA. Após formado, fui chamado pela Escola Frei Pacífico para ser professor de Língua de Sinais. Isto foi importante. Pedi a Deus que me abençoasse neste caminho, me mantivesse a esperança de bem trabalhar como profissional. Sou professor na Escola Frei Pacífico há um ano e seis meses. Fiz vestibular e passei para o curso Letras/LIBRAS em Educação à Distância na UFSC, no pólo UFSM. São quatro semestres muito importantes em minha vida. Adoro estudar e aprender. Assim, como profissional me desenvolvo em novas frentes de estudo e também tecnológicas sobre a educação dos surdos. Não paro de estudar.



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