UMA PARTE DE MIM...
Pois bem, é necessário começar a falar... são tantas coisas, tantas alegrias e também tantas incertezas, momentos inesquecíveis, momentos de não saber o que fazer ou o que escolher, momentos...Então, nada melhor que dar início à exposição de parte de minha vida, ou melhor, de parte de mim.
Neste tempo eu estudava em escola especial para surdos pela manhã e a tarde em uma escola para ouvintes. Esta época foi muito difícil, minha mãe me disse que eu não me relacionava bem com os colegas ouvintes, a professora ouvinte escrevia no quadro – negro e eu não acompanhava o mesmo tempo das outras crianças, a professora caminhava e falava pela sala de aula ensinando, a cada dia eu perdia mais e mais em relação ao aprendizado... destas coisas eu me lembro.
Ao completar a quinta série do antigo 1º grau, tive que buscar minha escolaridade em uma escola de ouvintes, foi grande a tristeza de deixar o espaço onde cresci e pude ser compreendida como uma pessoa com capacidade de construir a própria vida.
Fui então, para escola em Guaíba onde meus pais moravam, confesso que a insegurança em relação ao desconhecido me assustava, não tinha intérprete na sala de aula mas conseguia ler, me esforçava nos estudos, fazia as tarefas sozinha e as vezes minha mãe ajudava, ela trabalhava o dia todo na escola.
Quando completei seis anos de idade, minha mãe procurou escola na cidade em que morávamos (Feira de Santana) que era uma cidade pequena na época e só encontrou a APAE para deficientes em geral. Ela não gostou, pois queria uma escola especial para surdos. Fomos então morar em Salvador onde então conseguiu uma escola especial para mim.
Os professores de área corajosamente foram se instruindo em LIBRAS, em cursos oferecidos pela PMPA em convênio com a FENEIS e atualmente trabalham sem intérpretes.
A entrada dos educandos surdos despertou a minha curiosidade e a vontade de estabelecer comunicação, por isso comecei a freqüentar os Cursos de LIBRAS, em 1.998, sem a intenção de trabalhar com surdos, apenas aprender a Língua.
No ano de 2003, apoiei a professora Fernanda no estágio da faculdade, que também era Orientação Educacional, período em que a Ulbra estava passando por momento difíceis em relação aos interpretes. Durante as atividades de apoio, eu participava dos momentos na escola Frei Pacífico junto ao Serviço de Orientação Educacional como voluntária. Foi bárbaro, pude aprender juntamente com a Fernanda como funcionava o SOE em uma escola de surdos.
Na escola tinha a competição dos alunos do time Branco contra os alunos do time Azul, eu era líder do time Branco e organizador do meu grupo, fui vencedor. Pensava em ingressar na faculdade junto com os ouvintes, mas me angustiava: “será que terei intérprete?” Perto de me formar no 2° Grau, consegui um estágio como arquivista, trabalhei ao longo de seis meses. Pensava também na possibilidade de cursar informática, pois também observava as minhas aulas de informática e gostava.
São tantas coisas, tantos acontecimentos, atravessamentos, vitórias, alguns desânimos que fica difícil de colocar tudo aqui. Há uma saudade gostosa de relembrar o que passamos juntas, e às vezes me parece fugir o que vivemos no presente. Acho que esta carta tem um tom de reencontro com os que passaram e com tudo o que passou.
Pessoas sérias, comprometidas com a educação, tive de corresponder a todo o estímulo que me davam e acho que não fiz feio. Dentro daquela escola desenvolvemos projetos importantes, saiba que até entrar de caíque na Ilha dos Marinheiros para dar aulas de reforço nós entramos. Ao final do curso, já de posse do meu certificado de conclusão, fui convidada pela Ronice a fazer uma experiência na antiga Escola Especial Concórdia. De imediato tive muito medo, pois via Ronice comunicando-se com seus pais e alunos e sua destreza na Língua de Sinais me inibiam, mais que isso me apavoravam, pois acreditava que para trabalhar com surdos tinha de ter no mínimo uma competência em Libras igual a dela.Nossaaaaaaaaaa como eu era ingênua.Até hoje depois de 20 anos não chego nem aos pés da Ronice., rsrsrsrs
Adorava levar minha irmã para escola e ver como ela ficava feliz conversando com suas colegas. Suas amigas sempre estiveram por perto em toda nossa infância e adolescência. Sempre que podia assistia as suas apresentações e festas na escola. Sempre achei que podia trabalhar nessa área, mas não tinha muitos recursos para aprender mais a não ser através dela. Mas quando ingressei na faculdade tive contato com vários surdos e isso me reacendeu a vontade de trabalhar com surdos. Comecei a fazer então, cursos de libras e trabalho voluntário de intérprete na faculdade
Quando entrei no mundo dos surdos... Foi uma porta que abriu para minha liberdade, e o meu sorriso ficou brilhante, feliz e curiosa... E ganhei muitas amizades... Foi como “correntes à solta”, nome do meu livrinho que fiz...
Adorei o curso, terminei o mesmo determinada a trabalhar na área da educação de Surdos. Passei a trabalhar na Sala de Integração e Recursos com alunos D.A e alguns Surdos incluídos no ensino regular. Não tinha experiência alguma nesta área e, nem eu nem meus alunos sabíamos Língua de Sinais. Neste momento passei a ter contato com as primeiras histórias de fracasso escolar de alunos Surdos causada por uma ‘inclusão’ que apenas excluía. Quando abriu as inscrições para o 1º concurso municipal na área da educação de Surdos, me inscrevi e passei a me preparar para as provas. Em abril de 2001 fui nomeada e assumi o trabalho no Centro Municipal de Educação dos Trabalhadores Paulo Freire.
Me formei em 2004 e sou apaixonada pela minha profissão de professora de surdos. Nas minhas aulas posso trabalhar a cultura surda, além de ser um modelo de surda adulta, posso auxiliar os meus alunos na construção da identidade surda.
Pretendo continuar atuando como professora e participando na luta em defesa dos direitos dos surdos e por uma educação de qualidade.
Sabe que os nossos nomes são parecidos?
Pretendo continuar atuando como professora e participando na luta em defesa dos direitos dos surdos e por uma educação de qualidade.
Nessa experiência, fui capturada para a educação de surdos. Mas quando voltei para casa e disse para minha mãe que faria vestibular para esse curso, ela ficou preocupada. Me disse que eu não tinha perfil, pois para ser professora era necessário muita calma, “ainda mais para ser professora de crianças surdas...”. Fiz o vestibular para área mesmo assim e entrei no curso em 1990.
A escola atendia os pais quinzenalmente. Eu freqüentava duas fonos com técnicas diferentes, o tratamento era de primeiro mundo. Alguns anos depois, passei a freqüentar uma escola para ouvintes, indicação da própria CEAL, o nome da escola era Caminho Feliz.Quando eu estava preparada para ingressar na primeira série do ensino fundamental, voltamos para o RGS, para uma cidade do interior, Arroio do Tigre perto de Sobradinho. Como vivíamos no interior, fui estudar junto com os meus irmãos mais velhos, ouvintes, em uma escola de Irmãs. Eu não consegui me alfabetizar.
Nós dois tínhamos trabalho, nos formamos na faculdade. Casamos, e depois de um tempo resolvemos ter um bebê. Depois de um tempo eu larguei o meu emprego em Esteio e passei a me dedicar somente ao Frei Pacífico, para ter mais oportunidade de estudar.
Meu primeiro contato com surdos foi na infância, tinha dois tios surdos um da família de meu pai e outra da família da minha mãe, curiosamente ambos se chamavam Mário. Um usava um aparelho num dos ouvidos, lembro que quando a família de meu pai se reunia ele sempre participava das conversas com um fone no ouvido ligado a um fio que ia até um aparelho preso na cintura, mas, numa família de origem italiana e afro seguidamente brincavam com o tio Mário. O pessoal começa a falar cada vez mais baixo e o tio ia aumentando o som do aparelho, de repente falavam bem alto e ele levava um susto ou alguém ia por trás dele e mexia no botão do volume abaixando o som. Ele xingava todo mundo, mas, tudo acaba em festa. As brincadeiras não eram só com ele, meus tios e primos mais velhos estavam sempre brincando uns com os outros.
Com três tios surdos na família, lembro que na minha infância não havia discussões sobre a educação de surdos e nem tanto, questões lingüísticas, direitos e comunidade surda. Minha família sempre preocupou-se com a escolarização, necessidades e como comunicar-se com os surdos, já que eram três numa prole de onze irmãos ouvintes.
Mas como sou persistente, consegui trabalhar onde eu deveria estar desde o começo(hoje percebo isso), pois adoro o que faço e não me imagino mais dando aula para os ouvintes.
Qdo jovem ficava fascinada vendo grupos de surdos q conversavam na rua da Praia (o que aliás motivou eu e minha melhor amiga a inventarmos sinais e fazermos um alfabeto datilológico particular)e meu conhecimento sobre povo surdo era apenas essa. Ao iniciar o trabalho no Cmet é q realmente tive contato com a comunidade surda.
Pensando no passado. Lembrei que comecei a trabalhar em uma empresa, onde desempenhava a função de digitadora, nem pensava ensinar, em ser educadora...
Na época quem governava era o Presidente Collor mudou todo a econômica, então perdi o emprego. Estavadesempregada. Minha amiga me disse que eu deveria estudar para me formar e conseguir rápido um emprego. Já era formada no 2º grau. Não tinha currículo com muita experiência, só de digitadora. Não gostava da profissão de professor/educador. Porém o conselho de minha amiga desafiava-me, pois é muito importante estudar para crescer profissionalmente e ter uma formação.
Quando era pequena eu tinha 4 anos de 1989 anos fui primeiro na escola especial Padre Réus até formou de 2007 anos complemento 18 anos nunca fui outro na escola.
Hoje primeiro vez faculdade sou estudante LETRA / LIBRAS em UFRGS.
Fui atrás do meu sonho e ingressei no Magistério, nunca me esqueço da cena do meu primeiro dia de aula, aquelas duas jovens com aparelhos auditivos sentadas nas primeiras fileiras da sala, olhando para o professor, enquanto os outros riam conversavam elas ficavam com a mesma expressão. Foi então que perguntei para uma colega: “o que acontece com elas?” e uma colega respondeu: “são surdas”! Sentei ao lado delas e comecei a escrever bilhetes, tentando ajudá-las de alguma forma, foi a primeira vez que vi a Língua de Sinais. Desde aquele dia nunca mais nos separamos, dia-a-dia fui aprendendo mais e mais sinais, e meu amor crescia por esta língua, nesta época não sabia que era uma língua, achava que era apenas uma forma de comunicação. Fiquei mais admirada ainda, quando as meninas me disseram que eram irmãs gêmeas.
OOOOiiieee td bem??Estou bem..eu vou te disse uma história da minha vida..Eu nasci em Esteio.Quando Minha a mãe estavam gravida e eu nasci hospital em Esteio e ficaram doente AMARELÃO...e ficaram surda..Eu estudava em Esteio na escola Estadual Especial Padre Reus...
Para finalizar esta breve escrita ( carta ), acredito que despedir-me, seria um tanto brusco, pois até por possuirmos “ recortes comuns “, como já mencionado, penso que estaremos a partir de agora estreitando os laços, “ procurando agulhas e linhas “ para fazermos quem sabe uma “ colcha “ de nossas histórias.
Sempre amei crianças, por isto quis muito trabalhar na área da educação.
Fiz o curso de Magistério e sabia que estava no caminho certo.
Passei por um teste vocacional no 3º ano no magistério ,que me sinalizou estar correta na escolha da área da educação para o vestibular.
Ao ingressar na faculdade de Educação Especial –Habilitação Deficientes da Áudiocomunicação – em 1990 ,logo fiz muitas amizades e senti-me muito feliz por estar em um espaço que me propiciaria novas descobertas e grandes aprendizados e experiências . Durante o curso na UFSM ( Universidade Federal de Santa Maria )eu e minhas queridas colegas Adriana ,Márcia ,Liliane e Maura sempre buscamos ampliar os conhecimentos e a atuação da educação especial em outros espaços
Então antes de assumir o grupo fui um dia de manhã para vê-los e conversar com a professora da turma. O combinado era eu voltar na quarta-feira, dia 15 de junho de 2.005, data do início da licença da professora para começar a trabalhar com a turma, ainda acompanhada por ela é claro! No dia marcado cheguei e fui subindo para o quarto andar, tentei ir conversando com os alunos usando minha parca comunicação e o tempo foi passando e a professora não chegava, o que era muito estranho, pois nada havia sido comunicado sobre sua possível ausência. Outra colega resolveu ligar para a professora e todos fomos informados que ela dera a luz no seu primeiro dia de licença! A minha primeira aula deu-se no susto de me ver sozinha tentando explicar, em LIBRAS e com gravuras, aos alunos que sua professora havia ganhado nenê. Bah!
Dos dez alunos que iniciaram o ano letivo, dois abandonaram a escola, a família pensa não valer a pena investir. Dos outros oito, só dois se caracterizam por apresentar apenas surdez. Diante deste contexto o meu orgulho se quebra e percebo que a fluência em língua de sinais é o mínimo que devo ter.
Sinto-me muito bem com o que faço, e no momento não pretendo mudar nada, porque gosto de executar diferentes tarefas e em diferentes lugares. Gosto de ser pessoa de outro mundo, porque sou surda, também ser corajosa, bonita, legal de meus amigos, trabalho, estudar na faculdade e tenho muito para aprender a fazer as coisas novas.