quarta-feira, 15 de outubro de 2008

De Karin para Ana Claudia


Bem, não poderia ter outra pessoa neste grupo que ao longo da minha carreira esteve tão próxima, coincidência? Talvez... Acho que escolhemos caminhos parecidos. E por isso acho que será difícil colocar de mim sem colocar de ti também, afinal foram vários momentos, dúvidas, filosofias, caminhadas, cervejas, algumas festas, conselhos e indignações compartilhadas. São tantas coisas, tantos acontecimentos, atravessamentos, vitórias, alguns desânimos que fica difícil de colocar tudo aqui. Há uma saudade gostosa de relembrar o que passamos juntas, e às vezes me parece fugir o que vivemos no presente. Acho que esta carta tem um tom de reencontro com os que passaram e com tudo o que passou.

Hoje, com este exercício, olho para trás e vejo quanta coisa que já aconteceu. Quantas pessoas me atravessaram e quantas reencontro cada vez que vão à escola, a SSRS, aos encontros das Escolas de Surdos, das formações da prefeitura e outro eventos. Pergunto-me, o que ficou para eles e o que ficou para mim? Às vezes uma saudade, às vezes um esquecimento, outras a imensa alegria de ter deixado não sei bem o que. Assim, como passaram alunos e colegas os que ficaram são os amigos.

Se fosse comparar nossa profissão com a de um engenheiro, acredito que nosso prédio parece nunca ficar pronto, sempre tem algum detalhe que ainda é possível de colocar, a eterna busca do o aprimoramento, tanto dos alunos quanto nossa.

Mas vamos ao inicio, foi a parte que consegui escrever, talvez pelo significado que teve. Inicio de principiar, de dar os primeiros passos, de ter a primeira experiência, o primeiro lugar que a recebi pelo que fazia na área da educação, e pensava que, como pagavam bem! Pensei que tivesse descoberto o melhor lugar para trabalhar e provavelmente não me importaria de me aposentar ali, quanto engano. Passou alguns meses e passou o encanto, eu também passei no vestibular em Educação Física, novas perspectivas de vida, lembro de como timidamente te contei. Ah, falando de ti agora, que surpresa ao descobrir que era casada com o nosso colega, juro que até então nunca tinha percebido.

Voltando a instituição onde foi nosso primeiro emprego, com eu era passiva, e como me faziam ser deste jeito. Lembro de uma reunião quando ninguém além da diretora falou e quando sai para tossir outra colega comentou que eu havia saído, pensei credo! Nem isso posso fazer! Comecei a ler mais a respeito das teorias na educação de surdo e me dei conta das reais possibilidades para meus alunos se continuassem ali e as minhas também. Quem sabe haveria um lugar melhor onde conseguiria ser mais professora, não tão sujeitada as loucuras e as imposições veladas de uma direção.

Guardo ótimas lembranças desta época, não tanto a respeito da vida profissional, acho que estas coisas foram deixadas por lá, mas percebo quantos colegas legais se passaram. E os alunos, hoje mulheres e homens adolescentes, lembram também com saudades da sua época de infância e da primeira professora. Dou-me conta o quão importante fui para eles e eles para a construção da minha vida profissional.

Licença Creative Commons
Este obra foi licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Brasil.