Minha querida amiga Carmem Regina
Fiquei muito feliz ao retirar seu nome daquele envelope, pois já nos conhecemos de longa data e tenho a certeza de que o que contarei à você ,um pequeno resumo de minha vida profissional, não será totalmente desconhecido por ti.
Alguns buscam a profissão por conveniência financeira; tenha certeza que não é o meu caso. Avaliando minha caminhada até aqui (e já se vão longos 20 anos ), posso te dizer que minha opção foi única e exclusivamente pela Vocação. Pode parecer estranho, mas o fato é que já sabia que seria professora desde os 12 anos de idade. Talvez tenha sido flechada pela forma carinhosa como fui tratada na minha primeira experiência escolar. Sim, estou fazendo referência a minha professora do Jardim de Infância (Gisela), pessoa maravilhosa, doce, de olhar fraterno... Falando nela me vem a mente seu perfume e a forma como tratava seus alunos e eu, felizmente, era um destes privilegiados que teve a sorte de ter como educadora alguém tão especial.De lá até a escolha definitiva da minha profissão foi tudo uma questão de me relacionar com as pessoas.
Falando em me relacionar não posso deixar de citar o nome de uma segunda pessoa muito importante (Ronice Muller de Quadros) que foi decisiva na minha escolha profissional na área da surdez. Fizemos o magistério juntas no Colégio Sévigné e Ronice, juntamente com Marinara outra grande amiga, me mostraram o que era disciplina para o estudo. Pessoas sérias, comprometidas com a educação, tive de corresponder a todo o estímulo que me davam e acho que não fiz feio. Dentro daquela escola desenvolvemos projetos importantes, saiba que até entrar de caíque na Ilha dos Marinheiros para dar aulas de reforço nós entramos. Ao final do curso, já de posse do meu certificado de conclusão, fui convidada pela Ronice a fazer uma experiência na antiga Escola Especial Concórdia. De imediato tive muito medo, pois via Ronice comunicando-se com seus pais e alunos e sua destreza na Língua de Sinais me inibiam, mais que isso me apavoravam, pois acreditava que para trabalhar com surdos tinha de ter no mínimo uma competência em Libras igual a dela.Nossaaaaaaaaaa como eu era ingênua.Até hoje depois de 20 anos não chego nem aos pés da Ronice., rsrsrsrs
Dentro da Especial Concórdia aprendi muito, não somente o trabalho com surdos propriamente dito, mas mais que isso, aprendi a ter ética a respeitar as pessoas, a ter amor pelo que se faz e fazer sempre bem feito. Agradeço a todas as pessoas que cruzaram meu caminho, mas como diz uma grande amiga minha: “Tudo nessa vida tem um prazo de validade”, o meu expirou e tive de me lançar em outros mares. Mares estes de um azul tão transparente que me fizeram enxergar o que antes custava a perceber. Atualmente, querida Carmem, trabalho na Escola para Surdos Frei Pacífico, um lugar único que tenho certeza é abençoado por Deus. Neste espaço tenho tido experiências muito significativas nunca antes vividas. Alegria, profissionalismo, comprometimento com a cauda dos surdos são algumas das qualidades encontradas nos excelente profissionais desta escola. Há três anos venho tendo vivências que estão mudando algumas das minhas concepções a respeito da educação de surdos. Meu maior desafio até agora foi ter trabalhado com crianças com outros comprometimentos associados a surdez e saiba que amei esta experiência.
Bem linda amiga, este foi um breve resumo da minha vida profissional, aos 41 anos e certa caminhada dentro da educação de surdos tenho uma única certeza: O que importa são as pessoas,elas e somente elas dão sentido à nossa vida. Posso te dizer que sou uma pessoa abençoada por ser realizada profissionalmente, amo meu trabalho, amo meus alunos surdos.
Um beijo carinhoso daquela que sempre lhe admirou muito.
Valéria