quinta-feira, 16 de outubro de 2008

De Graciele para Cássia

UMA PARTE DE MIM...
Pois bem, é necessário começar a falar... são tantas coisas, tantas alegrias e também tantas incertezas, momentos inesquecíveis, momentos de não saber o que fazer ou o que escolher, momentos...Então, nada melhor que dar início à exposição de parte de minha vida, ou melhor, de parte de mim.
Oi Cássia, tudo bem? Fiquei muito feliz em conhecê-la e partilhar um pouco de minha experiência referente à Educação de Surdos. Nasci numa cidade do interior do rio Grande do Sul, chamada Santo Cristo. Nesta cidade vivi até meus 14 anos, lá não tive nenhum contato com pessoas surdas, e sim, com pessoas com alguma deficiência mental, paralisias, e/ou pessoas que apresentam algum comprometimento mental. Assim, durante muito tempo de minha vida, entendia que as pessoas que apresentavam alguma característica física, de comunicação, de compreensão ou qualquer outra marca diferente, eram pessoas deficientes.
Perambulei durante alguns anos conhecendo cidades do Rio Grande do Sul e também do Paraná, isso decorreu principalmente em função das mudanças realizadas pela minha família e também pelos meus estudos. No entanto, em 2003 passei no curso de graduação em Educação Especial – Deficientes da Audiocomunicação em Santa Maria. Logo no início do semestre participei de projetos de pesquisa que problematizavam a relação família e criança com necessidades especiais. Também tive a alegria de ter como colega de curso um sujeito surdo.
PROJETO FAMÍLIAS: Um começo...
Durante a graduação experenciamos muitas discussões, trocas, enfrentamentos, medos, dúvidas e vivências na Educação de Surdos. A cada semestre pude me identificar mais com a escolha que havia realizado inicialmente de forma aleatória. Fui timidamente mantendo contato com a comunidade surda de Santa Maria, realizando observações na escola de surdos e discutindo alguns pontos de vista com meu colega.
No segundo semestre de 2006 realizei meu estágio curricular na Escola Especial para Surdos Frei Pacífico, da cidade de Porto Alegre. Esse foi o começo de uma caminhada que venho trilhando como professora de surdos. Sinto-me em muitos momentos como que estando em frente a uma encruzilhada, ou então, num caminho obscuro, que é percorrido passo a passo no enfrentamento dos obstáculos impostos pela sociedade majoritariamente ouvinte. Entretanto, é no espaço da Educação de Surdos que pude vivenciar conhecimentos antes nunca sentidos, conviver e aprender com os surdos é para mim a essência das minhas ações neste momento.
Sinto-me realizada na minha escolha, gosto muito de trabalhar com crianças, pois elas não se cansam de questionar, bem como, não aceitam respostas efêmeras. São os sujeitos com os quais mantenho contato que me fazem colocar sob suspeita a minha prática e os discursos que cercam os surdos. As crianças surdas são pesquisadores sedentos de questões, que apresentam uma caminhada possível na conquista de uma sociedade que respeite a diferença.
Momentos...
Deixo claro, que minha experiência é, de certa forma, breve, mas ao mesmo tempo, uma experiência indescritível na minha construção de vida. Compartilho com os surdos o sonho de trocar experiências, o sonho de buscar uma educação efetiva, ampla e concreta e a felicidade de estar com eles no amanhecer de todos os dias...
Cássia, essa é minha rápida exposição, tenho certeza de que teremos ainda outros momentos para nos conhecermos melhor, um abraço amigo e até a próxima semana.
Com carinho, Graciele Marjana Kraemer.
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