quarta-feira, 15 de outubro de 2008

De Thaís para Lucila



Olá Lucila .

Meu nome é Thaís Monteiro e trabalho no CMET-Paulo Freire, com educação de Surdos. Sou casada e tenho uma filha que se chama Martha e que completou ,dia 10 de outubro ,3 aninhos.Vou contar resumidamente minha trajetória na educação e especificamente na educação de Surdos. Quando terminei meu 1º grau (atualmente ensino fundamental) não tive dúvidas que queria fazer no 2º grau o curso de magistério. Foi uma etapa da minha vida muito importante, onde fiz grandes amizades e, apesar da pouca idade, muitas coisas aprendi. Nesta época, uma de minhas colegas foi convidada para trabalhar com crianças Surdas. Fiquei muito curiosa, e imaginando ser um trabalho muito interessante. Muitos anos depois fiquei sabendo que a escola que ela trabalhou era o Frei Pacífico.

Apesar de gostar muito do magistério, resolvi prestar vestibular para psicologia, profissão na qual também atuo há 15 anos. Fiz minha graduação na PUC e, durante o curso, resolvi fazer o concurso para professora do estado. No ano em que me formei em psicologia, fui nomeada e iniciei a trabalhar no ensino público estadual como professora de 1ª à 4ª série. No ano de 1996 teve um curso de capacitação na área da Educação de Surdos, para professores da rede estadual de educação, na PUC. Foi então meu primeiro contato com educação de Surdos. Adorei o curso, terminei o mesmo determinada a trabalhar na área da educação de Surdos. Passei a trabalhar na Sala de Integração e Recursos com alunos D.A e alguns Surdos incluídos no ensino regular. Não tinha experiência alguma nesta área e, nem eu nem meus alunos sabíamos Língua de Sinais. Neste momento passei a ter contato com as primeiras histórias de fracasso escolar de alunos Surdos causada por uma ‘inclusão’ que apenas excluía. Quando abriu as inscrições para o 1º concurso municipal na área da educação de Surdos, me inscrevi e passei a me preparar para as provas. Em abril de 2001 fui nomeada e assumi o trabalho no Centro Municipal de Educação dos Trabalhadores Paulo Freire. Duas grandes novidades, que exigiram de mim estudo, esforço e adaptação; o trabalho com adultos e o trabalho com Surdos em classes especiais (de Surdos). Alunos Surdos adultos fluentes na Língua de Sinais e eu sem o domínio da mesma. Foi um início muito difícil e desafiador. Sabia que a condição mínima para trabalhar com Surdos é saber a língua de sinais. Sabia também do direito dos sujeitos surdos em aprender na sua língua, isto é, a Língua de Sinais deve ser a língua de instrução. Tive ajuda de uma colega, professora Dilce,e de muitos profissionais Surdos que foram meus professores. Dentre os profissionais surdos que me ensinaram a L.S está a minha atual colega na prefeitura de POA, colega Ana Luisa.

São muitas coisas que me emocionam na trabalho com Surdos no CMET. As histórias de vida dos alunos, suas dores, suas conquistas, suas lutas, suas marcas e movimentos na história. Quando iniciei no CMET já fiquei sabendo em que contexto o trabalho com Surdos na Rede Municipal de Ensino iniciou e se efetivou.

A mobilização e participação da comunidade Surda e de apoiadores dos movimentos Surdos nas temáticas de educação, esporte e lazer do Orçamento Participativo com objetivo de lutar pela construção de uma escola pública municipal de Surdos na cidade de Porto Alegre iniciou em 1996 e foi o que garantiu o início desse trabalho na rede municipal de educação. Costumo dizer que: se atualmente trabalho com Surdos é graças a esse movimento. Conseguiu-se, em 1998 um espaço no CMET para dar início ao trabalho. Começou com 15 alunos das totalidades iniciais (primeiros anos do ensino fundamental) e atualmente estamos com mais de 100 alunos em todas as totalidades (todo o ensino fundamental). A luta continua até os dias de hoje e o professor Wilson é a principal referência nesse processo, pois, há muito tempo é o representante dos Surdos no Orçamento Participativo. Em muitos momentos a participação de nossos alunos foi efetiva garantindo representantes nesse processo. Esta demanda já estava no Plano de Investimento em 2006/2007 e juntamente com a Secretaria Municipal de Educação procuramos terrenos para que a escola fosse construída, debatemos novamente com a Comunidade Surda do CMET que de forma unânime pede por uma escola de Surdos. A SMED então abre um processo com pedido de criação da Escola Municipal de Ensino Fundamental Bilíngüe de Surdos que já estava funcionando de forma provisória em algumas salas da própria secretaria. Em janeiro deste ano o Conselho Municipal de Educação se manifesta favorável à criação desta que atualmente tem sede provisória na Rua: Mariante, nº550 e endereço definitivo na Travessa Cosme e Damião, nº 84. Aguardamos que, o mais rápido possível se construa essa escola que pontuará mais uma conquista dentre tantas que a história dos surdos nos mostra.

Surge este ano um momento de apreensão com relação à política do MEC com relação à inclusão.Estamos trazendo este tema para as discussões com os alunos Surdos do CMET enfocando a importância da participação para a transformação da realidade. Digo que nesses sete anos de trabalho com Surdos muito mais aprendi do que ensinei. Encerro aqui meu relato e espero não ter me estendido muito.Estou enviando algumas fotos conforme combinado no 1º dia. Tem duas fotos referentes ao início do meu trabalho no CMET e duas fotos atuais. Um abraço. Thaís

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